Chegou Força da Natureza!
O conto Força da Natureza foi escrito em 2015. Um ano confuso para mim. Foi quando, ainda sem saber, publicaria meu primeiro conto em antologias e, no dia oito de novembro, meu pai já não estaria aqui para ler minha fictícia Carta de demissão do livro Círculo do medo. A perda foi horrível, mas a maneira como ocorreu foi ainda pior. Fiquei com o livro de direitos autorais na mão, o livro que seria dele, sem saber o que fazer com aquela brochura. Um clichê de cinema, um terrível clichê.
Sei que este aqui deveria ser um artigo agradável e curto, mas acabou começando com o parágrafo autobiográfico, algo que, aliás, nunca faço. Tudo bem. Seguirei adiante e contarei o que preciso contar. Tenho que contar porque está agarrado na garganta há anos.
Preciso falar sobre a insistência em escrever, revisar e editar Força da Natureza.
Uma das últimas coisas que meu pai me disse — e que ficou grudada na minha cabeça — foi a resposta que deu quando expliquei que minha história tinha sido selecionada: Ainda bem que você encontrou algo que pode fazer.
Ele se referia a escrever e talvez não soubesse que a vitória nem tinha sido tão grande assim se considerarmos as condições do mercado e minha entrada em algo que desconhecia completamente. É claro que não poderia esquecer o que ele disse, tivemos tão pouco tempo para conversar naqueles dias. E se sou um escritor apaixonado pelo que faço ou alguém vítima de um trauma que desencadeia a compulsão por escrever fantasias, acho que nunca saberei ao certo.
Força da Natureza era a história da vez naquele tempo. Desde que a escrevi a revisitei algumas vezes, 2016; 2018; 2019 (duas edições, uma no começo do ano e outra no final, ao imaginar que adquirira mais experiência com o ofício de revisão para editoras paranaenses).
Em 2020, depois de publicar Cegueira Súbita, soube que era hora de enfiar o nariz em Força da Natureza mais uma vez e mostrar para quem a quisesse ler de graça. Assim fiz e em tempo para o Halloween.
Ao contrário do que alguém possa imaginar depois de ler esse começo de artigo, não há no conto uma só palavra de emprego pessoal. Força da Natureza não é autobiográfica. Não escrevo desse modo.
O que é pessoal é a danada da insistência que diz muito sobre mim; a teimosia foi missão pessoal. E me sinto feliz ao perceber que, em menos de dois dias, as pessoas devoraram minha história, interagiram com ela, participaram de uma pequena promoção que fiz no Twitter e fizeram isso com vontade. Digo mais, em menos de uma hora, elas já tinham devorado uma história laboriosamente cutucada ao longo dos anos. E isso me arrepia, motiva e comove.
Portanto Força da Natureza é o conto que eu gostaria de reportar ao meu pai; dizer a ele que chegou às pessoas e que foi lido — devorado em questões de minutos — ; gerou interações lindas; elogios sinceros e levou as pessoas do meu Twitter em uma viagem de verdade.
O que lamentarei sempre é que meu pai jamais tenha lido essa e outras histórias. Também lamento que eu o tenha dito que consegui passar com uma de minhas histórias sem sentir mérito verdadeiro naquela seleção, no lugar de dizer que Força da Natureza encontrou corações lá fora.
Amigos, se há uma verdade por trás da ficção escrita, ainda que não tenha uma relação perfeita com a narrativa ou com o tema que vocês encontrarão, a verdade é que Força da Natureza está no meu site, gratuita para leitura, porque sinto que devo continuar insistindo. Acho que meu pai tinha razão, encontrei algo que posso fazer, bem ou mal. Eu posso teimar.
Ao ler o conto, você lerá a verdade por trás da ficção. E a verdade é simples, escrevo porque posso. E posso porque estou vivo.