Contos Curtíssimos de Terror
Se você estiver lendo isso, quero que saiba que meu nome é Madyana, pode me chamar de Mady. Quero dizer que tenho medo do armário do meu pai desde os sete anos. Parece até besteira, mas nunca perdi o medo.
Eu ficava brincando de casinha dentro dele. Aí reparei que tem uma frase assustadora talhada na madeira compensada atrás dos cabides de paletós. Tenho medo do que posso fazer, me perdoe. Não sei se foi meu pai que escreveu. O que sei é que deu tanto medo que não conseguia mais passar em frente ao armário. Às vezes tinha pesadelos tão terríveis que meu pai escutava do outro lado do corredor e vinha me sacudir. Mady, é só um sonho. Não parecia só um sonho, dã. Se parecesse, não seria pesadelo. Pesadelo é assustador porque parece real ou porque mistura realidade com pensamentos esquisitos. Por exemplo, a realidade era o medo e não importava as imagens ou sons que eu sentia na minha cabeça. Não. Mentira. Importava. Porque a parte mais esquisita dos pesadelos envolvia meu pai me sufocando com o travesseiro que fica na parte de cima do armário, naquela parte que ele guarda roupas de cama.
Daí teve uma vez que vi a porta do armário meio que aberta. Tipo, uma mão sinistra saía do armário e segurava a porta pela beirada pra que não fechasse. Uma mão pequena, não era de adulto, mas também não era de criança. É difícil explicar porque, num piscar de olhos, a mão desapareceu enquanto a porta se fechou devagarinho, aí fiquei me perguntando se vi mesmo ou só imaginei.
Aí um dia meu pai disse que queria que eu ficasse bem longe do armário. Outro dia meu pai disse que queria que eu ficasse longe do quarto dele. E um dia meu pai disse que queria que eu ficasse longe da casa. Como ficaria longe da casa e com quem eu iria morar? Aí teve o dia que a tia Deise ligou pra falar comigo e fez um montão de perguntas. Blá, blá, blá, como você está? Blá, blá, blá, seu pai está bem? E como quem não quer nada, perguntou se papai andava fazendo coisas estranhas. Ai, tipo, que loucura. Ele andava estranho? Fiquei confusa e até acho que dei a entender que papai estava diferente. Tia Deise falou que viria me buscar pra passar uns tempos com ela. Mas acho que tia Deise nunca veio.
Uma noite, papai me sufocou um pouquinho. Quando acordei estava dentro do armário. A frase está em cima de onde encosto minha cabeça. É escuro aqui, mas sei que a frase está ali em cima, posso sentir porque é a única coisa pulsando com um pouco de calor aqui. Todo dia sinto frio à beça.
É só isso que queria te contar, que aqui faz frio e é escuro. Então, tipo, se você estiver lendo isso, só queria que você soubesse que meu nome é Mady e tenho medo do armário desde os sete, mas tenho 13 anos agora e ainda é muito ruim ficar aqui dentro. Se você estiver lendo pode avisar pro meu pai que estou presa aqui? Ou então, tipo, tem como pegar um cobertor pra mim?
O cobertor está em cima, naquela parte alta que falei.
Eu pegaria se pudesse. Mas não consigo me mexer.
Não consigo.