O lado bom de escrever

Levi Rodrigues
2 min readOct 9, 2020

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Falar sobre como é difícil ser escritor independente no Brasil é o mesmo que dizer que rapadura é dura.

Se alguém me perguntasse, diria que também não é moleza ser torneiro mecânico ou soldador de navios. Todo trabalho produz conflitos, problematizações e debates. Encontraremos barreiras em toda profissão, a menos que exista dose cavalar de privilégios.

O mercado brasileiro de literatura é pitoresco, mas seria estranho se não fosse. Afinal, não é o que economistas dizem sobre a economia nacional? Pitoresca é exatamente a palavra que costumam usar. Ou seja, como o mercado de livros poderia superar a condição imposta pelo contexto mais amplo? Trata-se de cenário que desespera nossos colegas. Mas espere um pouco. Não vou falar sobre mercado.

O que quero é colocar minha mensagem na garrafa e, em seguida, jogá-la ao mar para quem a possa ler longe de minha ilha.

Se por um lado existe essa complexidade atávica, uma que parece desejar enlouquecer e desanimar os colaboradores mais fiéis deste modelo de mercado, por outro, existe o leitor.

Tenho total noção de minha pequenez. Sei que minhas histórias não alcançam tantas pessoas na internet. Minhas mídias são menos do que modestas; redes sociais que mal sei usar; decerto não sou o mais tecnológico dos seres e (aos 35 anos) sinto que a linguagem na internet avança por caminhos que não compreendo. Assim mesmo há leitores. Minhas palavras alcançam pessoas. Essas pessoas demonstram que, a despeito de um mercado canhestro, nós nos entendemos muito bem, obrigado.

Veja só que maravilha. Essas pessoas tomam um pouquinho de seu tempo para responder, enviar e-mails e falar sobre meus personagens, conflitos e finais — nem sempre de maneira elogiosa, compreenda, mas são gentis seja qual for o veredicto.

Aqui está a mensagem que gostaria que navegasse pelas águas e encalhasse nas areias das praias desconhecidas em algum instante. Os leitores estão recebendo, então escreva.

Você trabalha, eles respondem. Você joga ao mundo suas palavras e eles as interiorizam.

Devemos escrever para eles!

Por fim, se você estiver passando por dificuldades em fazê-los notar sua presença, eis a dica que aprendi em cinco anos de trabalho duríssimo: seja para os outros o leitor que você deseja encontrar para si. Verá que a recíproca será honesta e gentil.

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